Ana Calzavara

Sobre o artista

Campinas, SP 1971

Um olhar compulsivo pela repetição: renque de árvores, linhas geométricas de um caixilho de janela, ladrilhos angulosos no chão, pontos luminosos costurados no tecido da noite, janelas na fachada de um edifício-triângulo, degraus que descem em cascata do alto de uma escadaria. A vocação do repetir é gerar segurança, solidez, estruturas, as condições de reiteração da vida, portanto o tempo circular, eterno, dobrado sobre si mesmo como absoluto imóvel. A vida contemporânea é ela mesma encapsulada na repetição, da biometria aos algoritmos digitais, onde o espaço parametrizado abriga um tempo infinito, amigo, benevolente. Mas Ana Calzavara sequestra a repetição de seu uso corrente e a converte num recurso que leva o espaço ao seu limite oposto, ao seu duplo invertido, à sua dimensão evocativa, ao limiar da sua própria dissolução. Faz enfim do transe imóvel do repetido um princípio de desestabilização, de inquietude, de dispersão irreversível do espaço, portanto do próprio tempo também. Percorrendo um amplo arco de linguagens – pintura, gravura, desenho, fotografia, vídeo – Ana Calzavara convida o observador para “sequências mancas” que mostram que basta provocar pequenas alterações, fazer “pequenos erros sem importância”, trocar a ordem dos elementos na reiteração da vida, para que “algum lugar” se torne “lugar algum”, como as marianas, os brumadinhos e outros brasis. Bacharel em Artes Visuais pela Universidade Estadual de Campinas (1992), pós-graduada (Pintura) pela Byam Shaw School of Art, Londres (1998), e doutora em Poéticas Visuais pela Universidade de São Paulo (2012), vem realizando exposições no Brasil e no exterior, como as individuais na Casa da América Latina, Brasíia, DF (2018); no Museu da Imagem e do Som, São Paulo, SP (2006); na Casa da Dona Yayá, São Paulo, SP (2006) e no Centro Cultural São Paulo, São Paulo, SP (2000). Entre as mostras coletivas, destacam-se 4 artistas paulistas, Instituto Moreira Salles, Poços de Caldas, MG (2019); Xilo: Corpo e Paisagem no SESC Pinheiros, São Paulo, SP (2019); Zureta - International Contemporary Printed Art Exhibition and Symposium, Tóquio, Japão (2018); VIII Premio Arte Laguna, no Arsenale de Veneza, Itália (2014); 8th Biennale internationale d’estampe contemporaine de Trois-Rivière, Canadá (2013); PRINTED, no Pratt Institute, Nova Iorque, EUA (2008); L’art roman vu du Brésil, Anzy-le-Duc, França (2006); National Printing Exhibition, Londres, Reino Unido (1998), entre outras. Suas obras integram coleções como as do Museu do Douro, Portugal; Museu da Universidade de Tókio, Japão; Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS); Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MAC-RS); Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC-PR); Museu de Arte Contemporânea de Santo André, SP; Universidade de São Paulo (USP) e do Museu Olho Latino, Atibaia, SP.