Jacaranda | Mul.ti.plo + A2 | 11 fev - 09 abril 2017

De 11 de fevereiro a 9 de abril, 24 artistas do Jacaranda irão expor suas obras na galeria A2 + Mul.ti.plo, na mostra Pequenos Formatos: Dimensão e Escala: Afonso Tostes, Ana Holck, Angelo Venosa, Antonio Dias, Barrão, Elizabeth Jobim, Cabelo, Carlos Vergara, Daisy Xavier, Daniel Senise, Everardo Miranda, Gabriela Machado, Iole de Freitas, José Bechara, José Resende, Marcone Moreira, Marcos Chaves, Maria Laet, Mariana Manhães, Paulo Vivacqua, Raul Mourão, Tomás Ribas, Vicente deMello, Waltercio Caldas e o artista convidado, Miguel Rio Branco.

– Durante muito tempo, a Serra Fluminense virou as costas para a arte contemporânea. Chegou a hora de fazer uma exposição com um timaço de artistas com obras, apesar do formato, de imensa poesia. A mostra do Jacaranda é uma oportunidade de se conhecer o mais denso dessa produção, conta Maneco Muller, consultor de arte da galeria.  

Carlos Vergara, fundador do Jacaranda, acredita que o Vale das Videiras concentra uma série de pessoas interessantes, que gostam de arte e que, muitas vezes, não tem tempo e disposição para frequentar o circuito artístico. Nesse lugar que é de lazer, vinho, comida..., há sempre motivos para bons encontros. A arte contemporânea é o assunto. Mesmo trabalhos que tenham formatos pequenos podem ter um gesto grandioso. O texto do curador, Felipe Scovino, deixa muito claro isso. 

– A grande novidade desta exposição é a importante iniciativa da Mul.ti.plo de espalhamento da visibilidade dos trabalhos que ficam sempre presos a centros grandes e conhecidos. Esses artistas já têm as suas obras reconhecidas. Não há lugar melhor para acolher essa mostra do que o Vale das Videiras. Trata-se de um lugar com características especiais na Serra. Desde sempre, tem uma associação local muito forte e unida; uma comunidade com elevada consciência ecológica; uma atmosfera para cima; uma convivência positiva e saudável, diz José Bechara, outro fundador.

–  É preciso sublinhar que a arte educa, sim. Frequentar e confrontar-se com arte apura muita coisa. Não é para ser fácil, não. O que é difícil de compreender nos faz pensar melhor. Quem se interessa, tem uma vida mais rica e interessante, completa.

– Essa exposição configura-se, visto a quantidade e qualidade de obras, num panorama visual de fôlego das artes visuais brasileiras e, portanto, num importante estudo sobre as produções multifacetadas desses artistas, – resume Scovino.

 

Medida de um gesto por Felipe Scovino

A reunião das obras nessa exposição não se dá, a princípio embora isso possa ocorrer ocasionalmente, por um diálogo formalista mas pelo que poderíamos chamar de afinidades eletivas. E estas afinidades se fazem presentes basicamente por dois motivos que estão conectados a ideia de pequeno formato: o primeiro é que as obras possuem a medida de um gesto, a proximidade real e incisiva da mão do artista, e são precisas exatamente porque fazem um uso sensível, inteligente e total do espaço em que se tornam visíveis para o mundo; e o segundo motivo é que apesar do formato diminuto, essas obras exploram uma escala que excede o plano, como se houvesse significativamente uma vontade de explorar uma continuidade de suas respectivas pesquisas e formas para além do espaço delimitado do plano. O tamanho das obras é desproporcional à escala que engendram no âmbito de uma especulação imaginativa. São formas sintéticas e organizadas de raciocínios apurados que exploram os mais diversos meios, e fundam um vocabulário plástico de alta intensidade.

Não confundam esses pequenos formatos com estudos, desenhos, projetos ou rascunhos para a realização de “obras maiores” ou mais “maduras”. Pelo contrário, essas obras reúnem pensamentos condensados que criam um diálogo com as investigações desses artistas, assim como qualquer outra obra independente de sua escala, formato ou suporte. Essas produções fazem parte de um conjunto de trajetórias artísticas, em diferentes estágios, que primam pela coerência e diversificação de linguagens. A escala dessas obras revela e destaca um tom intimista, o que propicia, invariavelmente, uma proximidade maior com o espectador que se mantém, agora, ainda mais atento aos detalhes e circunstâncias específicas desse conjunto de trabalhos.

Em alguns casos, ver pela primeira vez obras que não necessariamente correspondem à escala que estamos acostumados a assistir daquele artista pode vir a causar uma surpresa. Mas por outro lado, mudar está na ordem na natureza, visto que a continuidade numa situação estabelecida gera a saciedade. Ademais, essas obras podem conter, dependendo do caso e da proposta, um sentido laboratorial. Fugindo à escala com a qual está habituado a operar, o artista pode entender essa proposta como um desafio total e testar possibilidades e quiçá linguagens que ainda não havia experimentado. Pôr-se em risco. Indagar os limites. Percorrer caminhos ainda não aventurados. Estes artistas, portanto, têm um compromisso com a invenção, em estabelecer regimes de visibilidade que permitam tornar os olhos do espectador mais sensíveis ao mundo que o cerca. E isto definitivamente não é pouco.

Essa exposição configura-se, visto a quantidade e qualidade de obras, num panorama visual de fôlego das artes visuais brasileiras e, portanto, num importante estudo sobre as produções multifacetadas desses artistas.