Cafi | O fio da meada | 30 ago - 14 de out 2011

Ao primeiro olhar pode parecer um emaranhado de linhas retas que se entrelaçam. Talvez um labirinto vertical. Quem sabe circuitos eletrônicos. Ou ainda uma composição de DNA. As 15 obras que o fotógrafo Cafi expõe, a partir de 30 de agosto na Mul.ti.plo Espaço Arte, representam tudo isso. Mas o objeto fotografado são andaimes – dezenas deles. Reunidos, fotografados e retrabalhados digitalmente, compondo emaranhados, labirintos, circuitos e células que formam uma nova estrutura.

A mostra O fio da meada é uma première de um lado ainda pouco conhecido do fotógrafo, que se notabilizou, dos anos 70 aos 90, por fotografar mais de 300 capas de discos dos maiores ícones da música popular brasileira. Só de Milton Nascimento, foram mais de 20. E também para Sarah Vaughan (no disco O som brasileiro de Sarah Vaughan) e as duas capas da Blitz – o antológico primeiro disco e o Radioatividade – entre tantos e tantos mais. Mas este é um tempo que ficou para trás. “Nem meus amigos mais íntimos viram esta série de fotos. É uma afirmação de minha visão da fotografia como arte pura”, diz Cafi.

A idéia para esse trabalhosurgiu de um projeto em andamento, um livro sobre Copacabana. Perambulando pelo bairro, Cafi percebeu a quantidade de obras – e de andaimes – que surgiam nas ruas e, principalmente, na preparação de grandes eventos na praia. E passou a fotografá-los. “Ver aquelas pessoas trabalhando nos andaimes me remeteu a células que formam o DNA. Como se estivessem construindo vida, de certa forma, em um grande labirinto. E me fez pensar que, como em qualquer labirinto, ou na vida, há sempre uma saída”, explica o artista, que completa: “É quase uma metáfora que diz: atualmente, com o cotidiano atribulado que vivemos, é preciso ampliar o seu ‘andaime’ todos os dias.”

A série – com fotos a partir de 80cm x 80cm – também retoma, de certa forma, o lado artista plástico de Cafi, desenvolvido nos anos 60 e interrompido quando ganhou da irmã a primeira máquina fotográfica. “Só que agora a tela é o monitor e o pincel, o mouse”, brinca, já que, após fotografar, realiza interferências e montagens das imagens no computador, para que as tramas ganhem profundidade, ramificações, sobreposições e transparência.